Comunicação é a troca
de informação entre duas ou mais pessoas, é recíproca entre indivíduos que
envolvem um padrão natural de dar e receber iniciação e resposta. Entre os seres humanos é um processo interpessoal por meio do qual
se estabelecem vínculos com os outros; esta relação é estabelecida de
diferentes maneiras e, segundo as possibilidades comunicativas de cada um, pode
acontecer com movimentos do corpo, utilizando objetos do ambiente ou
desenvolvendo um código linguístico.
A comunicação é um ato intersubjetivo que acontece entre duas ou
mais pessoas, onde há uma troca entre significados e sentidos. (Habermas,
Jurgen.1991).
A comunicação não só acontece no âmbito verbal, mas transcende o
não verbal, como modalidade discursiva que tem um conteúdo expressivo e
compreensivo, apto para ser incluso dentro do fenômeno comunicativo humano.
Nas crianças com surdocegueira e com deficiência
múltipla, a COMUNCIAÇÃO é o aspecto mais importante e, por isto, deve-se focar
nele toda a atenção na implementação do programa educacional/terapêutico, já
que é o ponto de partida para chegar a qualquer aprendizagem.
A comunicação pode ser:
Comunicação receptiva: ocorre quando alguém recebe e
processa a informação dada através de uma outra fonte. A informação pode ser
recebida através de uma outra pessoa, do rádio ou TV, objetos, figuras e uma
variedade de outras fontes e formas. No entanto, comunicação receptiva requer
que a pessoa que está recebendo a informação forme uma interpretação que seja
equivalente com a mensagem de quem enviou tentou passar.
Comunicação
expressiva: requer
que o comunicador (pessoa que comunica) passe a informação para outro
indivíduo. Comunicação expressiva pode ser realizada através do uso de objetos,
gestos, movimentos corporais, linguagem falada ou escrita, figuras, e muitas
outras variações.
Comunicação não simbólica: Sistemas
de comunicação não simbólica são freqüentemente individualizados para cada
individuo e pode ser não convencional em sua natureza. A comunicação não
simbólica pode ser utilizada em conjunto com formas simbólicas ou podem ser
usadas isoladamente. Todos nós usamos formas de comunicação não simbólica em
uma variedade de maneiras diferentes todos os dias. É um método efetivo de
comunicação contanto que a forma da comunicação tenha uma função definida e
conhecida.
Comunicação simbólica: refere-se a qualquer sistema de
palavras, sinais ou objetos usado para se comunicar que seja formalmente
organizado e regido por regras. Estes símbolos representam conceitos, ações,
objetos, e pessoas e pode ser altamente abstrato e complexo.
Muitos
indivíduos que são surdocegos e tem deficiências múltiplas usam comunicação não
simbólica para tornar suas necessidades conhecidas. Freqüentemente, pais ou
responsáveis são as primeiras pessoas a dar significado a certas vocalizações e
movimentos corporais de bebês ou crianças pequenas.
A perda visual e auditiva
limita o conhecimento do que acontece, já que sua percepção de distância fica
comprometida. Não saber o que acontece fora do corpo pode gerar angústia,
instabilidade emocional e temor. É então que a unidade de vida e conexão com o
mundo é feita por meio do tato, “adquirindo uma relevância especial nas suas
necessidades de comunicação, obtenção de conhecimentos e aprendizagem”. (Alvarez,
1991).
Uma
característica critica para qualquer programa de instrução de comunicação para
indivíduos surdocegos é a infusão do sistema e
da instrução dentre uma variedade de ambientes de vida-real na escola, na
comunidade e em casa, com uma variedade de pessoas. Sem as habilidades para
adaptar-se a uma variedade de formas necessárias e funcionar em diferentes
ambientes, a maioria dos jovens surdocegos irá experenciar grande dificuldade
em ambientes de trabalho e comunidade.
O método de
providenciar terapias de fonoaudiologia “fora-de-contexto” em uma sala separada
longe dos colegas e atividades regularmente agendadas não é mais apropriado.
Não se aprende comunicação efetivamente no isolamento. Os alunos precisam usar
uma variedade de formas e funções em diferentes ambientes para adquirir
habilidades comunicativas necessárias para sobreviver no mundo real.
O uso de objetos reais é
uma possibilidade que consiste em interpretar uma atividade, ação ou situação
por meio de um objeto, que adquire um valor simbólico. Por meio do uso dos
objetos, a criança pode compreender e expressar as intenções comunicativas.
As pessoas surdocegos que ainda não alcançaram a fase dos sinais
deveram dar ênfase à importância da leitura dos movimentos do corpo e do uso
dos outros sentidos básicos para que elas aprendam. As pessoas adultas ou
aquelas que interagem com elas não entendem ou não conseguem interpretar estas
formas de comunicação, não haverá troca e elas deixarão de se comunicar,
chegando à frustração.
Deve-se “negociar” o sentido ou o significado, dizendo a elas, por
exemplo: se você quer dizer SIM, levante o braço. Se você quer dizer NÃO,
deixe-o abaixado. Lembrem que devemos permanentemente ANTECIPAR e DAR tempo
para que a criança processe a pergunta e possa responder; elas precisam de mais
tempo.
A forma de comunicar-se que as pessoas que se encontram nestes
níveis anteriores à comunicação formal de palavras, sinais ou desenhos
mostrarão, serão: movimentando uma parte do seu corpo, ficando tensas,
chorando, fazendo um gesto, olhando para o outro lado.
Dentre as estratégias para
criar, facilitar e incrementar a comunicação não simbólica se deve levar em
conta:
Interesses Individuais;
Compensar a perda dos sentidos à
distância;
Compensar a perda dos sentidos à
distância;
Responder às tentativas de comunicação;
Consistência;
Proporcionando contingências;
Criando a necessidade de se comunicar;
Introduzindo um tempo de espera nas
respostas;
Estabelecer uma vizinhança cooperativa
social e
Incrementar as expectativas
comunicacionais
As ações que devem ser
realizadas na elaboração de rotinas devem estar baseadas nos seguintes
preceitos:
·
Organizar o ambiente ao seu
redor, a estrutura, a rotina e ter persistência neste ambiente para poder
responder a um estímulo, usando todos os canais sensoriais.
·
Talvez no começo as
crianças surdocegos e multideficientes não entendam que suas condutas têm
efeito sobre as respostas que o adulto dá a elas e a única maneira de criar
este vínculo é por meio da rotina.
·
Dar a oportunidade de:
controlar o meio (situação, objetos, pessoas); expressar suas necessidades e
receber uma resposta adequada a elas.
·
Ao sentir-se numa atmosfera
segura, a criança desenvolverá condutas comunicacionais intencionais. Começamos
a considerar intencional quando ela usar gestos, vocalizações ou sinais.
·
O anterior é obtido por
meio da troca entre o adulto e a criança, que tem sua atenção compartilhada e a
utiliza para conseguir coisas do ambiente de uma maneira funcional, com um
propósito determinado.
·
As rotinas estruturadas
devem realmente ser do gosto da criança e devem ter um INÍCIO e um FINAL
claros.
Para que a comunicação aconteça e sejam
alcançados os objetivos estabelecidos dentro de cada atividade para as
crianças, é necessário fazer o seguinte:
·
Alertar a criança sobre a presença de
quem interage com ela.
·
Alertar a criança sobre a atividade que
vai ser desenvolvida.
·
Introduzir pouco a pouco a criança na
atividade.
·
Falar sobre o que se faz enquanto a
atividade é executada.
·
Repassar uma e outra vez o que fez
durante a atividade, dando à criança a oportunidade de PEDIR, REJEITAR ou
EXPRESSAR escolhas reais.
·
Criar acontecimentos que, com certeza,
NÃO acontecem normalmente. Dentro de suas atividades.
·
Criar oportunidades para resolver
problemas individuais ou em grupo (a complexidade varia segundo as habilidades
da criança).
Uma
vez que conheça o nível no qual você e a criança se comunicarão, estabeleça uma
rotina com atividades que forneçam várias oportunidades para a comunicação
sobre o que está acontecendo. Nas rotinas familiares,
você desenvolverá um sistema de comunicação usando sinais táteis, gestos
naturais, a fala e qualquer outra forma de representação apropriada para a
criança. Use este sistema para informar o que a criança está experimentando:
ações, emoções e ações antecipadas (que acontecem depois).
Quando a criança iniciar a compreensão de um grupo particular de
sinais dentro de uma situação específica, comece a realizar duas ações (uma de
cada vez):
·
Mude a situação um pouco
(ordem dos eventos, objetos usados dentro do evento); a criança tem que
generalizar os sinais conhecidos desde uma situação para outra.
·
Incremente a ênfase sobre
os sinais de alto nível enquanto diminui os sinais de baixo nível.
Em outras palavras, uma criança que compreenda muito bem os sinais
táteis, mas só um ou dois gestos precisa de uma rotina que lhe permita ter
acesso às atividades que lhe ofereçam estes gestos. Enquanto a criança usa
sinais táteis que chegam a ser familiares com a sequência de eventos e conhece
o que acontecerá depois, você pode gradualmente substituir estes sinais táteis
com gestos. Na medida em que a criança aprenda estes gestos, modifique um pouco
as atividades para que a compreensão destes gestos seja transferida para novas
situações.
Portanto percebemos que a comunicação
precisa ser o mais significativa possível para que os alunos com DMU e
Surdocegueira tenham o interesse de se comunicar. O que vai importar é o quanto
o ambiente e as experiências estão sendo propícios para que essa comunicação
aconteça. Dependerá também da relação de confiança estabelecida entre o adulto
e a criança e, principalmente, da forma como as informações serão transmitidas
a ela.
Referências
Folheto FACT 3 – COMMUNICATION / Primavera 2005 -
Lousiana Department of Education 1.877.453.2721 State Board of Elementary and
Secondary Education. Tradução:
Vula Maria Ikonomidis. Revisão: Shirley Rodrigues Maia. Junho de 2008.
Serpa,
Ximena. Apostila sobre
comunicação para pessoas com surdocegueira.