"O sucesso consegue-se com decisão, confiança, persistência e não com desânimo, indecisão, lamúria..."
"Quando perdemos o direito de ser diferente perdemos o privilégio de sermos livres" (anônimo).
O
texto aborda a definição de surdocegueira e Deficiência Múltipla, como também
as causas, tipos, classificação, características, necessidades dos alunos, os
desafios dos professores e como contribuir para o desenvolvimento desses
alunos.
Um
dos maiores desafios dos professores que trabalham com alunos com Deficiência
Múltipla e Surdocegueira estão relacionados á autonomia da criança e do
adolescente. Devemos buscar atividades funcionais que favoreçam o desenvolvimento
da comunicação, das interações sociais, dos cuidados pessoais, das habilidades
domésticas, recreativas e sociais, sempre tendo, como base, as preferências e
potencialidades do aluno.
Outro
grande e complexo desafio de professores e familiares de crianças com DMU e
surdocegueira refere-se á comunicação.
Quando
conhecemos um aluno com múltipla deficiência ou surdocegueira, mergulhamos em
muitas indagações e nos sentimos incapazes de realizar algo que possa
auxiliá-lo. Esses novos desafios nos fazem enfrentar os medos e as
resistências, quebrar paradigmas e práticas, redefinir nosso mundo para
auxiliar na definição do muno do outro.
Devemos
nos sensibilizar de que esses alunos acabam ficando presos dentro do seu corpo,
e não conseguem exprimir desejos, vontades, alegrias, tristezas nas situações
cotidianas.
Deficiência Múltipla
é a “expressão adotada para designar pessoas que tem mais de uma deficiência. É
uma condição heterogênea que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando
associações diversas de deficiências que afetam, mais ou menos intensamente, o
funcionamento individual e o seu relacionamento social” (MEC, 2000, p.4).
A
múltipla deficiência pode ser a deficiência auditiva ou visual associada a
outras deficiências ( intelectual ou física), como também a distúrbios (
neurológico, emocional, de linguagem e de desenvolvimento global) que causam
atraso no desenvolvimento educacional, vocacional, social e emocional,
dificultando a autonomia do individuo. Não é o
somatório de duas ou mais deficiências que causa a DMU, aprendi que, não é o
somatório e sim, quando os recursos são insuficientes
para uma deficiência em decorrência da outra deficiência.
Causas:
Pode ser de várias causas que envolvem a múltipla deficiência, como as de ordem
sensorial, motoras e lingüísticas, ocorrem nos período pré-natal, perinatal e
pós natal.
A
DMU pode ser causada por várias doenças como:
Ø
Hipotireoidismo;
Ø
Síndrome da Rubéola Congênita e
Ø
Símdrome de Rett.
Os tipos de DMU são:
Ø
surdez com deficiência intelectual;
Ø
surdez com distúrbios neurológicos, de
conduta e emocionais;
Ø
surdez com deficiência física (leve ou
moderada);
Ø
baixa visão com deficiência
intelectual;
Ø
baixa visão com distúrbios
neurológicos, emocionais, de linguagem e de conduta;
Ø
baixa visão com deficiência física
(leve ou severa);
Ø
cegueira com deficiência física (leve
ou severa) e
Ø
deficiência física com deficiência
intelectual.
As características das crianças com DMU
são:
Ø
Aprendem as habilidades mais
lentamente;
Ø
Tendem a esquecer habilidades que não
são praticadas;
Ø
Tem dificuldades em generalizar
habilidades aprendidas separadamente;
Ø
Necessitam de instruções organizadas e
sistematizadas;
Ø
Apresentam necessidades de ter alguém
que possa mediar seu contato com o meio que o rodeia.
Em
alguns casos, devido as suas características, alguns são considerados autistas,
porém apresentam diferenças significativas quando estimulados, evoluem
sensorialmente, estabelecem códigos de comunicação que se tornam comuns entre o
emissor e o receptor, proporcionando sua autonomia e independência.
Algumas das necessidades da criança com
DMU:
Ø
Ser olhada como criança;
Ø
Ser olhada como alguém que pode
aprender;
Ø
Ser considerada potencialmente bem-sucedida
e
Ø
Sentir que a família e a escola têm
expectativas positivas em relação a ela.
Algumas necessidades educacionais da
criança com DMU:
Ø
Posicionamento e manejo apropriado:
além de prevenir dores e complicações posturais, o posicionamento adequado do
aluno permitirá que ele possa ver, ouvir, alcançar os objetos e movimentar-se
em toda as atividades;
Ø
Oportunidades de escolhas: ensinar o
aluno a fazer escolhas, para diminuir o grau de dependência;
Ø
Métodos apropriados de comunicação:
comunicação é uma necessidade básica de todo ser humano e é muito crítico para
aqueles indivíduos que, por dificuldades motoras ou sensoriais, não conseguem
expressar suas necessidades, como fome, sede, ou sentimentos. Todas as formas
possíveis de comunicação devem ser estabelecidas segundo as necessidades de
cada criança;
Ø
Estimulação constante de pessoas que se
comuniquem de forma adequada e que proporcionem situações de interação;
Ø
Planejamento de toda a aprendizagem,
inclusive aspectos simples e básico de sua vida diária;
Ø
Interação em ambientes naturais,
incluindo pessoas e objetos;
Ø
Oportunidade de aprendizagem centrada
em experiências de vida real;
Ø
Planejamento com atividades funcionais
e significativas e
Ø
Organização e estruturação dos
ambientes para que se sintam seguras (Orelove; Sobsey, 1996; Amaral; Ladeira,
1999).
Surdocegueira: É
uma das deficiências menos entendidas. A criança com surdocegueira tem
privações multissensoriais, a quem foi efetivamente negado o uso simultâneo dos
dois sentidos distais ( Mclnnes; Treffry, 1982, p. xiii).
É
uma deficiência única que apresenta a perda da audição e da visão de tal forma
que a combinação das duas deficiências impossibilita o uso dos sentidos de
distância, cria necessidades especiais de comunicação, causam extrema dificuldade
na conquista de metas educacionais, vocacionais, recreativas, sociais, para
acessar informações e compreender o mundo que o cerca.
A
partir do ano de 1991, profissionais, familiares e pessoas com surdocegueira se
uniram para uma “Ação Afirmativa” do reconhecimento da surdocegueira como uma
deficiência única, em virtude de não se beneficiarem dos programas educacionais
para pessoas somente com surdez e ou de pessoas com deficiência visual.
Essa
ação afirmativa ganhou vulto mundial e hoje ela é reconhecida pela ONU conforme
Convenção ratificada pelo Brasil, pelos parlamentos: Andino e Europeu bem como
nos governos dos: Estados Unidos, Austrália e Canadá.
No Brasil desde 2000 ela está sendo
reconhecida pelo Ministério da Educação e Ministério da Justiça e Secretaria
Nacional dos Direitos Humanos, hoje as Secretarias das Pessoas com Deficiência
e os Conselhos Estaduais e Municipais também já reconhecem.
Surdocegueira
não é considerada como DMU.
A pessoa que nasce com surdocegueira ou que fica surdocega não recebe
as informações sobre o que está sua volta de maneira fidedigna, ela precisa da
mediação de comunicação para poder receber, interpretar e conhecer o que lhe
cerca.
Seu
conhecimento do mundo se faz pelo uso dos canais sensoriais proximais como:
tato, olfato, paladar, cinestésico, proprioceptivo e vestibular.
Na
deficiência Múltipla não garantimos que todas as informações muitas vezes
chegam para a pessoa de forma fidedigna, mas ela sempre terá o apoio de um dos
canais distantes (visão e ou audição) como ponto de referência, esses dois
canais são responsáveis pela maioria do conhecimento que vamos adquirindo ao
longo da vida.
Segundo a intensidade das perdas a
surdocegueira pode ser classificada como:
Ø Surdocegueira
total, ( ausência total de visão e
audição);
Ø Surdez
profunda com resíduo visual,( ausência
de percepção da fala mesmo com aparelho de amplificação sonora individual, com
resíduo visual que permite orientar-se pela luz, facilitando a mobilidade e com
apoio de alto contraste é possível ter percepção de objetos, pessoas e escrita
ou símbolos);
Ø Surdez
moderada com resíduo visual,(
dificuldade para compreender a fala em voz normal e sua percepção visual à luz
permite mobilidade e com apoio de alto contraste é possível ter percepção de
objetos, pessoas e escrita ou símbolos);
Ø Surdez moderada ou leve com cegueira, (dificuldade
auditiva para compreender a fala em voz normal ou baixa é necessário falar mais
próximo ao ouvido e tom mais alto (fala ampliada), total ausência de visão, sem
percepção de luminosidade ou vulto).
Ø Perda
leve, tanto auditiva quanto visuais,(dificuldade
para compreender a fala em voz baixa e seu resíduo visual possibilita que
defina e perceba volumes, cores e leitura em tinta ampliada.
Os tipos de surdocegueira podem ser:
CONGÊNITA: Denomina-se surdocego congênito quem nasce com esta única
deficiência, como por exemplo pela rubéola adquirida no ventre da mãe.
ADQUIRIDA: A surdocegueira adquirida é quando a pessoa nasce ouvinte,
vidente, surda ou cega e adquire, por diferentes fatores, a surdocegueira.
Ø
Cegueira congênita e surdez adquirida;
Ø
Cegueira e surdez adquirida;
Ø
Surdez congênita e cegueira adquirida;
Ø
Baixa visão com surdez congênita ou
adquirida e
Ø
Cegueira e surdez congênita.
As
causas podem ser:
Ø
Icterícia;
Ø
Prematuridade;
Ø
Sífilis congênita;
Ø
Meningite;
Ø
Síndrome de West;
Ø
Anóxia;
Ø
Fator RH negativo;
Ø
Glaucoma;
Ø
Síndrome de Usher;
Ø
Toxoplasmose e
Ø
Consangüinidade;
O s fatores de risco são:
Ø
Epidemias de doenças como rubéola,
sarampo e meningite;
Ø
Doenças venéreas;
Ø
Infecções hospitalares;
Ø
Gravidez de risco e falta de saneamento
básico.
A
surdocegueira é classificada de acordo
com a época de aquisição, pode ser:
Surdocego pré-linguístico: Apresenta
durdocegueira congênita ( no período gestacional), após o nascimento ( antes da
aquisição da linguagem) ou perda da audição antes da aquisição da linguagem e
posterior perda da visão.
Surdocegueira pós- lingüístico: Adquirida
após a aquisição da linguagem ou pessoas com deficiência visual com posterior
perda de audição.
Características da Surdocegueira :
Ø
Surdocego com baixo desempenho;
Ø
Surdocego com nível intermediário e
Ø
Surdocego com bom desempenho.
Algumas
pesoas com surdocegeuira são retraídas e isoladas, apresentam dificuldade para
se comunicar, não demonstram curiosidade e motivações básicas, normalmente
apresentam problemas de saúde que acarretam sérios atrasos no desenvolvimento,
não gostam do toque das pessoas, não conseguem se relacionar com as pessoas,
encontram dificuldades para se alimentar e com a rotina do sono, tem problemas
de disciplina, atrasos no desenvolvimento social, emocional e cognitivo e
desenvolvem estilo único de aprendizagem.
Algumas observações educacionais do
aluno com surdocegueira:
Ø
Pode apresentar movimentos
estereotipados e repetitivos;
Ø
Não demonstra saber as funções dos
objetos ou brinquedos, utilizando-os de maneira adequada;
Ø
Pode rir ou chorar sem causa aparente;
Ø
Pode apresentar resistência ao contato
físico;
Ø
Movimenta os dedos e as mãos em frente
aos olhos;
Ø
Não se comunica d maneira convencional;
Ø
Pode apresentar distúrbio do sono;
Ø
Não explora o ambiente de maneira
adequada;
Ø
Tropeça muito e bate nos móveis,
objetos entre outros;
Ø
Gosta de ficar em locais com
luminosidades e
Ø
Pode não reagir a sons.
Necessidades educacionais do aluno
com surdocegueira:
Ø
Evitar o toque de muitas pessoas;
Ø
Estruturar o planejamento com
atividades funcionais para o aluno;
Ø
Não infantilizar, considerar sua idade
cronológica;
Ø
Estabelecer uma rotina previsível com
uma comunicação possível;
Ø
Estabelecer uma relação de confiança;
Ø
Respeitar o tempo de aceitação;
Ø
Desenvolver um diálogo não verbal,
utilizando os movimentos do aluno;
Ø
Utilizar as habilidades que o aluno
apresente;
Ø
Enfocar o processo de aprendizagem e
não o resultado;
Ø
Ter informações de todos que atuam com
a criança;
Ø
Prepare um ambiente que estabeleça um
lugar com limites espaciais, lugares muitos amplos podem causar alterações de
comportamento;
Ø
Perceber suas intenções comunicativas;
Ø
Dar novo significado a objetos e
pessoas e
Ø
Respeitar o tempo do aluno e não ser
invasivo.
Garantir a permanência do aluno com
surdocegueira e DMU na escola regular é primordial encorajar e proporcionar a
independência e a autonomia do aluno, com enfoque em suas aptidões escolares,
desenvolvendo suas habilidades para que ele possa estar o mais próximo possível
dos colegas e da rotina escolar. É muito importante manter a privacidade e a
dignidade do aluno deixando que ele faça suas próprias escolhas, sem
imposições, antecipar o que ocorrerá, não deixar que ele pense que tudo é
constituído de surpresas e não ter o direito de escolhas.Para tanto é
necessário regras que devem ser combinadas e não podem ser quebradas, pois os
limites devem ser respeitados.
Criar um vínculo deve ser o centro de
todo trabalho, não tendo esse vínculo entre o professor e o aluno, nenhum
trabalho poderá ser realizado. O vinculo é a ligação que se faz entre as
pessoas por meio de emoções, confiança e entrega, assim, após se conseguir
alguma forma e vínculo, tudo se torna mais fácil.
Além disso, repita as tarefas várias
vezes até que o conteúdo seja assimilado. Não faça PARA seu aluno, e sim COM o
seu aluno. Não seja controlador, permita que seu aluno compartilhe a
experiência de tocar os objetos ou fazer movimentos. Coloque as suas mãos à
disposição da criança para que ela as use como queira.
Referências
C. MCLNNES; Treffry, 1982, p. xiii.
HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes
Esteves. Ciranda da Inclusão, esclarecendo as deficiências. São Paulo- SP.
MAIA, Shirley Rodrigues. Aspectos
Importantes para saber sobre Surdocegueira e Deficiência múltipla. São Paulo,
2011.
MEC. A inclusão do aluno com baixa visã