domingo, 18 de maio de 2014

A Comunicação das Pessoas com Surdocegueira e Deficiência Múltipla







Comunicação é a troca de informação entre duas ou mais pessoas, é recíproca entre indivíduos que envolvem um padrão natural de dar e receber iniciação e resposta. Entre os seres humanos é um processo interpessoal por meio do qual se estabelecem vínculos com os outros; esta relação é estabelecida de diferentes maneiras e, segundo as possibilidades comunicativas de cada um, pode acontecer com movimentos do corpo, utilizando objetos do ambiente ou desenvolvendo um código linguístico.
A comunicação é um ato intersubjetivo que acontece entre duas ou mais pessoas, onde há uma troca entre significados e sentidos. (Habermas, Jurgen.1991).

A comunicação não só acontece no âmbito verbal, mas transcende o não verbal, como modalidade discursiva que tem um conteúdo expressivo e compreensivo, apto para ser incluso dentro do fenômeno comunicativo humano.
Nas crianças com surdocegueira e com deficiência múltipla, a COMUNCIAÇÃO é o aspecto mais importante e, por isto, deve-se focar nele toda a atenção na implementação do programa educacional/terapêutico, já que é o ponto de partida para chegar a qualquer aprendizagem.






                                               


A comunicação pode ser:


Comunicação receptiva: ocorre quando alguém recebe e processa a informação dada através de uma outra fonte. A informação pode ser recebida através de uma outra pessoa, do rádio ou TV, objetos, figuras e uma variedade de outras fontes e formas. No entanto, comunicação receptiva requer que a pessoa que está recebendo a informação forme uma interpretação que seja equivalente com a mensagem de quem enviou tentou passar.

Comunicação expressiva: requer que o comunicador (pessoa que comunica) passe a informação para outro indivíduo. Comunicação expressiva pode ser realizada através do uso de objetos, gestos, movimentos corporais, linguagem falada ou escrita, figuras, e muitas outras variações.
Comunicação não simbólica: Sistemas de comunicação não simbólica são freqüentemente individualizados para cada individuo e pode ser não convencional em sua natureza. A comunicação não simbólica pode ser utilizada em conjunto com formas simbólicas ou podem ser usadas isoladamente. Todos nós usamos formas de comunicação não simbólica em uma variedade de maneiras diferentes todos os dias. É um método efetivo de comunicação contanto que a forma da comunicação tenha uma função definida e conhecida.
Comunicação simbólica: refere-se a qualquer sistema de palavras, sinais ou objetos usado para se comunicar que seja formalmente organizado e regido por regras. Estes símbolos representam conceitos, ações, objetos, e pessoas e pode ser altamente abstrato e complexo.
Muitos indivíduos que são surdocegos e tem deficiências múltiplas usam comunicação não simbólica para tornar suas necessidades conhecidas. Freqüentemente, pais ou responsáveis são as primeiras pessoas a dar significado a certas vocalizações e movimentos corporais de bebês ou crianças pequenas.
A perda visual e auditiva limita o conhecimento do que acontece, já que sua percepção de distância fica comprometida. Não saber o que acontece fora do corpo pode gerar angústia, instabilidade emocional e temor. É então que a unidade de vida e conexão com o mundo é feita por meio do tato, “adquirindo uma relevância especial nas suas necessidades de comunicação, obtenção de conhecimentos e aprendizagem”. (Alvarez, 1991).
Uma característica critica para qualquer programa de instrução de comunicação para indivíduos surdocegos é a infusão do sistema e da instrução dentre uma variedade de ambientes de vida-real na escola, na comunidade e em casa, com uma variedade de pessoas. Sem as habilidades para adaptar-se a uma variedade de formas necessárias e funcionar em diferentes ambientes, a maioria dos jovens surdocegos irá experenciar grande dificuldade em ambientes de trabalho e comunidade.
O método de providenciar terapias de fonoaudiologia “fora-de-contexto” em uma sala separada longe dos colegas e atividades regularmente agendadas não é mais apropriado. Não se aprende comunicação efetivamente no isolamento. Os alunos precisam usar uma variedade de formas e funções em diferentes ambientes para adquirir habilidades comunicativas necessárias para sobreviver no mundo real.
O uso de objetos reais é uma possibilidade que consiste em interpretar uma atividade, ação ou situação por meio de um objeto, que adquire um valor simbólico. Por meio do uso dos objetos, a criança pode compreender e expressar as intenções comunicativas.
As pessoas surdocegos que ainda não alcançaram a fase dos sinais deveram dar ênfase à importância da leitura dos movimentos do corpo e do uso dos outros sentidos básicos para que elas aprendam. As pessoas adultas ou aquelas que interagem com elas não entendem ou não conseguem interpretar estas formas de comunicação, não haverá troca e elas deixarão de se comunicar, chegando à frustração.
Deve-se “negociar” o sentido ou o significado, dizendo a elas, por exemplo: se você quer dizer SIM, levante o braço. Se você quer dizer NÃO, deixe-o abaixado. Lembrem que devemos permanentemente ANTECIPAR e DAR tempo para que a criança processe a pergunta e possa responder; elas precisam de mais tempo.
A forma de comunicar-se que as pessoas que se encontram nestes níveis anteriores à comunicação formal de palavras, sinais ou desenhos mostrarão, serão: movimentando uma parte do seu corpo, ficando tensas, chorando, fazendo um gesto, olhando para o outro lado.
Dentre as estratégias para criar, facilitar e incrementar a comunicação não simbólica se deve levar em conta:
Interesses Individuais;
Compensar a perda dos sentidos à distância;
Compensar a perda dos sentidos à distância;
Responder às tentativas de comunicação;
Consistência;
Proporcionando contingências;
Criando a necessidade de se comunicar;
Introduzindo um tempo de espera nas respostas;
Estabelecer uma vizinhança cooperativa social e
Incrementar as expectativas comunicacionais

As ações que devem ser realizadas na elaboração de rotinas devem estar baseadas nos seguintes preceitos:
·         Organizar o ambiente ao seu redor, a estrutura, a rotina e ter persistência neste ambiente para poder responder a um estímulo, usando todos os canais sensoriais.
·         Talvez no começo as crianças surdocegos e multideficientes não entendam que suas condutas têm efeito sobre as respostas que o adulto dá a elas e a única maneira de criar este vínculo é por meio da rotina.
·         Dar a oportunidade de: controlar o meio (situação, objetos, pessoas); expressar suas necessidades e receber uma resposta adequada a elas.
·         Ao sentir-se numa atmosfera segura, a criança desenvolverá condutas comunicacionais intencionais. Começamos a considerar intencional quando ela usar gestos, vocalizações ou sinais.
·         O anterior é obtido por meio da troca entre o adulto e a criança, que tem sua atenção compartilhada e a utiliza para conseguir coisas do ambiente de uma maneira funcional, com um propósito determinado.
·         As rotinas estruturadas devem realmente ser do gosto da criança e devem ter um INÍCIO e um FINAL claros.
Para que a comunicação aconteça e sejam alcançados os objetivos estabelecidos dentro de cada atividade para as crianças, é necessário fazer o seguinte:
·         Alertar a criança sobre a presença de quem interage com ela.
·         Alertar a criança sobre a atividade que vai ser desenvolvida.
·         Introduzir pouco a pouco a criança na atividade.
·         Falar sobre o que se faz enquanto a atividade é executada.
·         Repassar uma e outra vez o que fez durante a atividade, dando à criança a oportunidade de PEDIR, REJEITAR ou EXPRESSAR escolhas reais.
·         Criar acontecimentos que, com certeza, NÃO acontecem normalmente. Dentro de suas atividades.
·         Criar oportunidades para resolver problemas individuais ou em grupo (a complexidade varia segundo as habilidades da criança).
Uma vez que conheça o nível no qual você e a criança se comunicarão, estabeleça uma rotina com atividades que forneçam várias oportunidades para a comunicação sobre o que está acontecendo. Nas rotinas familiares, você desenvolverá um sistema de comunicação usando sinais táteis, gestos naturais, a fala e qualquer outra forma de representação apropriada para a criança. Use este sistema para informar o que a criança está experimentando: ações, emoções e ações antecipadas (que acontecem depois).
Quando a criança iniciar a compreensão de um grupo particular de sinais dentro de uma situação específica, comece a realizar duas ações (uma de cada vez):
·         Mude a situação um pouco (ordem dos eventos, objetos usados dentro do evento); a criança tem que generalizar os sinais conhecidos desde uma situação para outra.
·         Incremente a ênfase sobre os sinais de alto nível enquanto diminui os sinais de baixo nível.

Em outras palavras, uma criança que compreenda muito bem os sinais táteis, mas só um ou dois gestos precisa de uma rotina que lhe permita ter acesso às atividades que lhe ofereçam estes gestos. Enquanto a criança usa sinais táteis que chegam a ser familiares com a sequência de eventos e conhece o que acontecerá depois, você pode gradualmente substituir estes sinais táteis com gestos. Na medida em que a criança aprenda estes gestos, modifique um pouco as atividades para que a compreensão destes gestos seja transferida para novas situações.
 Portanto percebemos que a comunicação precisa ser o mais significativa possível para que os alunos com DMU e Surdocegueira tenham o interesse de se comunicar. O que vai importar é o quanto o ambiente e as experiências estão sendo propícios para que essa comunicação aconteça. Dependerá também da relação de confiança estabelecida entre o adulto e a criança e, principalmente, da forma como as informações serão transmitidas a ela.


Referências

Folheto FACT 3 – COMMUNICATION / Primavera 2005 - Lousiana Department of Education 1.877.453.2721 State Board of Elementary and Secondary Education. Tradução: Vula Maria Ikonomidis. Revisão: Shirley Rodrigues Maia. Junho de 2008.

 Serpa, Ximena. Apostila sobre comunicação para pessoas com surdocegueira.




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